O mercado da construção civil é um dos maiores consumidores de água, utilizando 21% da água tratada no planeta, segundo o US Green Building Council. Cada m² de uma construção absorve de 200 a 250 litros de água e, para a confecção de cada m³ de concreto — o material mais utilizado na construção — é necessário de 160 a 200 litros. Por esse motivo, reutilizar e economizar água é de extrema importância. Isso vale não apenas para o processo de construção em si, também é interessante projetar um edifício que seja sustentável e ecológico durante sua vida útil.
Como economizar água antes e durante a construção
Ainda antes de começar a construção, vem a escolha mais importante quando se trata de consumo de água no canteiro de obras: o método construtivo. Como mencionado anteriormente, alguns materiais da construção civil têm um elevado consumo de água em sua produção, como é o caso do concreto e da argamassa. É interessante, quando possível, dar prioridade para os métodos construtivos mais econômicos, como o wood frame, steel frame e a construção a seco (drywall).
O segundo método de economizar água durante a construção também vem antes do início da construção em si: o planejamento do canteiro de obras. É nessa fase que precisa ser planejada a instalação de meios para a captação da água da chuva, reutilização da água utilizada pelo ar-condicionado da área administrativa, se for o caso, e até redirecionamento da água das pias para a descarga, por exemplo.

Outro ponto que pode gerar uma grande economia de água é o treinamento da equipe de trabalhadores, cujo consumo médio diário varia de 45 a 65 litros. É importante que toda a equipe seja conscientizada e a economia seja incentivada pela empresa.
Como mencionado, uma das formas de diminuir o consumo de água é utilizando a água da chuva para alguns serviços, como os de limpeza. Essa medida é bastante incentivada durante o processo de construção, e pode continuar a ser aplicada durante a vida útil do edifício. A forma mais comum para a captação da água da chuva é o uso de cisternas, você pode conferir nosso post sobre cisternas e sua implementação clicando aqui.

Também é de extrema importância que os responsáveis pela obra fiquem atentos ao consumo de água, monitorando as leituras dos hidrômetros e adotando medidas sempre que houver uma grande variação do consumo médio da obra sem motivo aparente.
Por fim, algo que também envolve planejamento é a economia de água nas atividades domésticas que serão praticadas após o término da construção. A escolha dos elementos que ficam ligados à rede hidráulica é de extrema importância nesse quesito e deve ser bem analisada. Quando se opta por um vaso sanitário com caixa acoplada, por exemplo, a quantidade de litros de água por descarga é limitada, o que acaba economizando bastante. Se a caixa tiver a tecnologia dual flux, o consumo de água pode ser reduzido a até 60% da descarga comum.
As torneiras podem ter o mesmo sistema de controle, limitando o tempo de abertura a até dez segundos. Existem ainda casos de dispositivos que podem ser fixados em torneiras convencionais, e chuveiros elaborados com a economia em mente, que incorporam ar ao fluxo para diminuir a vazão, mas manter a sensação do mesmo volume de água.
Como reutilizar
Possuindo bons equipamentos na rede hidráulica é possível economizar um grande volume de água, mas ainda há como diminuir ainda mais o gasto de água e consequentemente poupar mais dinheiro futuramente. Reutilizar a água que já foi gasta traz muitos benefícios para o meio ambiente e a sua carteira. Obviamente esse método não pode ser executado de qualquer maneira, possui algumas limitações e requer cuidados, que no final valem a pena.
Quando vamos falar sobre a reutilização da água de uso doméstico, é comum separá-la antes em duas categorias: água cinza e água negra. Essa classificação facilita na hora de tratá-las para poderem ser usadas de outra forma ou serem descartadas. É importante ressaltar que a separação das duas categorias na rede hidráulica é essencial, não podendo haver contato entre elas em momento algum.

A água cinza é mais fácil de ser reaproveitada, pois possui baixos índices de resíduos orgânicos, é proveniente de chuveiros, torneiras de banheiro, tanques e máquinas de lavar roupa. Considerando que em 2019 o consumo médio do brasileiro era cerca de 154 L por dia, de acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, do Ministério das Cidades, e que cerca de 64% do consumo de água potável é gasta na pia e no chuveiro, mostra-se possível obter um volume de 98,56 L por pessoa todo dia de águas cinzas.
Já a água negra tem em sua composição uma elevada quantidade de matéria orgânica, por esse motivo os efluentes de vasos sanitários e pias de cozinha, devido a restos de alimentos e óleos, entram nessa categoria. O volume de água negra produzida é significativamente menor que o de água cinza, mesmo assim a maior parte de microrganismos e nutrientes da água doméstica estão presentes nela.
Uma vez separadas as águas de modo a atender às exigências, há dois caminhos que podem ser escolhidos para a água cinza, pode-se apenas armazená-la para um reuso direto sem tratamento ou tratá-la para ter um aspecto mais agradável, porém mesmo que tratada ainda não se torna água potável. Descarga de vasos sanitários, rega de jardins e gramados, lavagem de quintais, pisos, paredes e veículos são alguns dos exemplos do que pode ser feito com a água cinza. Usando os 98,56 L que cada pessoa produz diariamente, seria possível dar uma média de 27 descargas.

Como dito anteriormente, a água negra possui muitos microrganismos, esses que podem ser nocivos ao ser humano, então não pode ser facilmente tratada ou ser utilizada diretamente. O reaproveitamento da água negra é feito por um equipamento colocado na rede hidráulica: o biodigestor. Assim, sua reutilização não é de uma forma tão direta quanto a água cinza, mas apresenta uma grande economia financeira e grandes benefícios ambientais.
O biodigestor substitui a saída de esgoto da rede hidráulica, o que faz com que não seja cobrado a tarifa de esgoto sobre a conta de água. No Paraná, essa tarifa em sua maior parte é de 80% sobre a água, mas em Curitiba pode chegar a 85%. Ou seja, uma casa com biodigestor instalado deixa de pagar quase metade da sua conta de água, uma oportunidade para economizar água e dinheiro!
O que acontece com essa água canalizada até o equipamento é a decomposição anaeróbica da matéria orgânica, produzindo biogás e biofertilizante. O resíduo orgânico gerado domesticamente não gera uma grande quantidade de biogás para ser aproveitado como geração de energia, no entanto chega a gerar um botijão de gás de cozinha ao mês. O biofertilizante é um adubo natural, sustentável e age como bioinseticida, ele melhora a qualidade física, química e biológica do solo, eliminando também a necessidade de fertilizantes químicos e defensivos agrícolas.

Além de tudo isso, possui um papel de saúde pública e ecológico muito grande, pois evita o descarte inadequado de toda a água negra (e cinza que se converteu em negra após o reaproveitamento). Além disso, durante a fermentação que decompõe a matéria orgânica os microrganismos patógenos são eliminados e moléculas complexas são convertidas em simples que podem ser absorvidas pelas plantas.
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